A crise de um jurado – Por Julián Fuks

"Evite disputar prêmios literários. O pior que pode acontecer é você ganhá-los, conferidos por juízes que o seu senso crítico jamais premiaria." Esse foi o conselho que Carlos Drummond de Andrade deu a um jovem escritor, ou melhor, esse foi um de seus "anticonselhos", uma de suas lições de ceticismo e mordacidade. Desta vez, como nunca faço, vou discordar do nosso poeta maior. O pior que pode acontecer a um escritor, num prêmio literário, é não o ganhar e se ressentir, e se amargurar pela injustiça, e passar a maldizer todo juízo crítico, e logo se anular corroído por dúvidas, e já não conseguir escrever mais nada, e tratar apenas de fugir da empreitada vazia fadada ao fracasso em que consiste a literatura. Caso raro, alguém dirá. Ao que outro poderá convocar o onipresente meme: é raro, mas acontece muito.
Em vinte anos, muitas vezes desobedeci a Drummond e disputei prêmios literários: ganhei uns poucos, perdi muitos outros — embora tenha aprendido, nos momentos sãos, que ninguém nunca perde um prêmio, que um prêmio deve ser um agrado inesperado ao vencedor e nada mais. Mas também tenho sido, com frequência, um desses juízes não premiáveis pelo senso crítico dos jovens escritores, membro insistente dos júris malditos do nosso mercado editorial. Essa é a situação que agora quero abordar, uma prática mais agônica do que seria de se imaginar, mais carregada de apreensões, inseguranças, indecisões. Uma experiência extrema que parece poder revelar, a qualquer instante, a violência de toda leitura, a fragilidade de toda apreciação crítica, a insensatez inescapável de toda a literatura.
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Fonte: UOL - ECOA


